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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Poesia sem versos

Eu tenho um relógio que sempre marca as seis horas. É que ele está parado no tempo. Chega a ser gozado um relógio parado no tempo. A prerrogativa de um relógio é estar junto ao tempo. Eu não sei como me sinto sobre isso. Na história da minha vida falta uma peça, então eu não sei bem como lidar com o tempo. Acho que estou escavando o solo de mim em busca do meu próprio elo perdido. Poético.
Eu tenho um guarda-roupas sem portas e,por isso, seu conteúdo fica exposto. Eu penso que o meu guarda-roupas deve sentir-se devassado, corrompido. As roupas devem sentir-se roubadas.
Eu tenho uma televisão que não funciona. Ou seria uma janela fechada. Eu tenho um pote de biscoitos. Ele é um urso roxo. Um cofre com moedinhas, uma flor de plástico como meu nome e uma extensa fauna sobre minha escrivaninha.
Eu tenho um periquito que não aprendeu a voar. Ele leva uma boa vida, recebe carinho e água fresca. Mas a premissa de um pássaro é voar. Eu não sei como ele se sente sobre isso.
Se eu juntasse todas letras de músicas de que gosto em um caderno, elas contariam minha vida. Talvez fosse menos difícil ler sua vida nas palavras alheias.
Eu tenho cisma com papel e caneta. Parece até que se eu não juntar ao meu redor a maior quantidade possível fico sem norte, com as mãos vazias.
Um dia, eu tive um melhor amigo que me entendia e me amava mas ele morreu. Eu já não sei como ele se sente sobre isso.

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